Até o final do século 19, todo o Rio de Janeiro era cercado de praias. Para que a cidade ganhasse espaço, muitos aterros foram feitos e assim muitas praias e enseadas deixaram de existir como muitas das antigas lagoas da cidade. Era nas praias que os portugueses desembarcavam e partiam, pois o único meio de transporte para além-mar e locais distantes do próprio Brasil e do Rio de Janeiro era através do mar, além de ser de vital importância para a subsistência, como a pesca. As praias não eram tidas como local de mero lazer como nos dias de hoje e não era usual o banho de mar.
No início do século 20, a cidade passou por inúmeras transformações urbanisticas com desmonte de alguns morros e muitos aterros. Desapareceram a Praia do Russel na Glória, a Praia da Ajuda onde foram feitos aterros em frente à Cinelândia, a Praia de Santa Luzia que ficava em frente à Igreja de Santa Luzia no Centro da Cidade, a Praia Dom Manuel e Praia do Peixe que ficavam uma de cada lado da Praça 15, bem como a própia praia em frente a Praça 15, que chegava próxima à Rua Primeiro de Março no início da colonização, foi cada vez ficando mais afastada até se tornar cais de barcas, assim desaparecendo do cenário natural. Entre a Praça 15 e Praça Mauá, tudo era faixa de praia e a chamada Prainha ficava onde hoje é a Praça Mauá. Existiram também praias em frente ao bairro da Saúde que chegava até a Rua Sacadura Cabral, assim como a Praia da Gamboa que era local de pescadores, e o Saco ou pequena Enseada do Alferes na mesma área. Estas áreas da Saúde e Gamboa foram aterradas para construção do Porto do Rio de Janeiro no início do século 20. O Saco de São Cristóvão com a Praia de São Cristóvão foi totalmente aterrado, pois havia uma grande entrada de mar onde é o atual bairro do Santo Cristo e onde está a Rodoviária Novo Rio e Rua Francisco Bicalho, sendo que este aterro se estendeu até áreas do porto do Rio e armazéns do porto em direção à São Cristóvão. Onde era o Saco de Cristóvão, no local foi construído um canal pela Rua Francisco Bicalho que se curva e se prolonga até perto da Praça Onze, na Av. Presidente Vargas.
Praia da Piaçava / Praia de Santa Luzia
A primeira referência a este local consta em um mapa de 1576 com o nome indígena de Praia de Piaçava ao pé do Morro do castelo. Mais tarde, a praia toma o nome de uma pequena igrejinha construída a beira mar no final do século XVI. Essa praia ficava em frente à igreja que tem o mesmo nome. Além do templo religioso também foi construída na extinta praia a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, fundada em meados do século XVI e em funcionamento até hoje no mesmo local, que na época era uma região considerada isolada, devido ao Morro do Castelo.. Em 1922, com a derrubada do Morro do Castelo, foi construída a Esplanada do Castelo, mas ainda era possível nadar na praia de Santa Luzia, mesmo com a diminuição da faixa de areia. Na década de 1940, a ampliação do aterro para a construção do Aeroporto Santos Dumont eliminou o que restava da praia. A Igreja de Santa Luzia ainda existe mas hoje à sua frente passa a Av. Presidente Antônio Carlos.
Praia do Russel
Praia do Russel era uma praia onde hoje se encontra o Hotel Glória. Anteriormente, chamava-se Praia D. Pedro I, pois o mesmo costumava se banhar nela. Mudou de nome em 1869 com o início das operações da Rio de Janeiro City Improvements Limited, a primeira empresa responsável pelo tratamento de esgotos na cidade, que deu o nome Russel em homenagem ao engenheiro João Frederico Russel, que tinha os direitos de exploração desse serviço, anteriormente. A praia desapareceu na década de 60 com a criação do Aterro do Flamengo.
Praia da Ajuda
O primeiro nome oficial da área onde fica, hoje, a Cinelândia foi Campo (ou Largo) da Ajuda, assim chamado devido à ermida em louvor à Nossa Senhora da Conceição da Ajuda, erguida ali logo após a expulsão dos franceses da Baía de Guanabara. O estreito de areia que existia junto a Lagoa do Boqueirão era a Praia da Ajuda. Foi aterrada junto com a Lagoa e hoje, lá se encontra o Passeio Público.
Praia do Peixe e Praia Dom Manuel
Praia do Peixe
Praia Dom Manuel
O trecho entre a Praia Dom Manuel e as proximidades do Arsenal de Marinha foi assinalado nas antigas plantas da cidade com a designação de Praia do Peixe inclusive o local onde, no século XIX, se instalou um mercado. Até princípios do século XVIII, havia no local um desenvolvido comércio de peixe, das pescarias e do que era salgado para o consumo público, vendidos em barracas e telheiros. Do outro lado da Praça 15, ficava a praia Dom Manuel, que chegava próxima à Rua Primeiro de Março no início da colonização. Foram cada vez mais afastada até se tornar cais de barcas, assim desaparecendo do cenário natural
Prainha
Onde hoje é o Largo de São Francisco da Prainha havia uma pequena praia, denominada Prainha, que se estendia até onde hoje é a área do Porto Maravilha e Museu do Amanhã.
Praia de São Cristovão e Enseada dos Alferes
A origem do banho de mar nas praias no Rio de Janeiro está associada a uma história curiosa: no período em que a corte portuguesa estava instalada no Rio, o médico de D. João VI recomendou o banho de mar como cura para uma doença que afligia Sua Majestade. Nas cercanias da residência real, o Paço da Quinta da Boa Vista, foi instalada uma “Casa de Banhos”, com vestiário e lugar de repouso para o rei em suas incursões à Praia de São Cristóvão. Tal construção histórica ainda existe e nela funciona o Museu da Limpeza Urbana, mantido pela Comlurb. A Praia de São Cristovão, porém, desapareceu com a expansão do porto do Rio na direção dos antigos cais de São Cristóvão e Caju.
Praia da Gamboa e da Saúde
Nessa região, uma das principais atividades era a pesca. A Praia da Gamboa era vizinha da Praia da Saúde. Naquele local havia pescadores profissionais e moradores das proximidades que ali armavam “gamboas” – pequenas represas com intuito de capturar peixes. Daí veio a origem do nome. A construção do porto do Rio de Janeiro, no século XX, necessitou de uma vasta quantidade de aterro que acabou escondendo a Praia da Gamboa. Em cima desses aterros foram erguidas enormes edificações, conhecidas como trapiches ou grandes armazéns e depósitos. Os cenários naturais e originais desapareceram, as atividades de pesca que então existiam também sumiram. Os aspectos econômicos e culturais do local mudaram. Assim o bairro foi bastante descaracterizado, mergulhando então nas feições de uma zona portuária.
No período de conquista colonial, quem chegava do mar encontrava, além de ilhas desertas, uma costa formada por rochedos graníticos, restingas, mangues, desembocadura de rios, lagoas e, para além desta paisagem litoral, figuravam os montes e a serra tropical. Ao longo do processo de crescimento urbano, cada nova parcela de espaço urbano construído correspondia um avanço sobre os mangues, os pântanos e praias.
A economia colonial, voltada para a produção de açúcar e exploração das riquezas naturais do país, exigia que se ampliasse o território para além do núcleo urbano. Tornava-se necessário preparar também novas áreas para embarcadouros, atividade que se desenvolveu apoiada na atual Rua Primeira de Março, e abrir vias de comunicação com traçado paralelo e perpendicular ao mar para ligar a costa ao interior facilitando a circulação das mercadorias.
O crescimento da cidade rumo ao litoral norte também foi progressivo, impulsionado pelas atividades portuárias que procuravam uma situação mais atraente para os navios e pelo novo papel do comércio portuário, sobretudo com a implantação do mercado de escravos na região do Valongo a partir dos anos 1830. A morfologia desse litoral foi mudando, através da construção de trapiches e aterrados, que projetaram a fronteira de suas praias para águas mais profundas das enseadas formadas pelas antigas praias do Valongo, Saúde e Saco de São Diogo, onde se encontrava uma fonte de abastecimento de água potável para os navios. O aumento das atividades comerciais baseadas na extração das riquezas (açúcar, ouro e depois café) e as correspondentes infra-estruturas portuárias mudaram definitivamente a morfologia deste litoral, que se tornou o espaço portuário por excelência e assim permanece até os dias de hoje. A direta consequência foi o completo desaparecimento das praias que ali existiam.
Os aterros nas áreas do Centro foram necessários na época para o desenvolvimento da cidade. As praias contíguas ao centro histórico foram transformadas em porto comercial e de passageiros. Neste processo, as praias mais ao sul e as atlânticas acabaram destinadas ao lazer da população. O Rio assim passou de cidade portuária a cidade balneária e importante polo turístico do Brasil.
REFERÊNCIAS
Verena Andreatta; Maria Pace Chiavari; Helena Rego O Rio de Janeiro e a sua orla: história, projetos e identidade carioca Nº 20091201 Dezembro – 2009 - SMU/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
https://www.riodejaneiroaqui.com/pt/praias-antigas.html
https://diariodorio.com/as-praias-extintas-da-cidade-do-rio-de-janeiro/