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Foto do escritordanielericco

E O JOGO DO BICHO SURGE EM VILA ISABEL


O jogo do bicho foi criado em 1892, no Rio de Janeiro, pelo Barão João Batista Viana Drummond como uma atração para os visitantes de seu Jardim Zoológico. Localizado em Vila Isabel e inaugurado em 1888, este se encontrava em dificuldades financeiras, após perder o subsídio imperial. A intenção por trás da idéia era nobre: o barão queria atrair mais gente para o zôo, compensando o corte de verbas do governo, que mantinha o lugar e para alimentar toda a fauna.

Ao adquirir o ticket do ingresso, o visitante ganhava uma figurinha de um bicho. No alto de um poste, à entrada do zoológico, escondia-se a gravura de um dos 25 bichos da lista sob uma caixa de madeira, a ser revelado ao fim do dia. Quem estivesse com a figura do mesmo animal ganhava um prêmio de 20 vezes o valor da entrada.



No início, todo visitante do zôo recebia um bilhete com a imagem de um bicho. Mas, a partir de 1894, cada um podia comprar quantos bilhetes quisesse. Daquele ano em diante, o jogo do bicho deixou de ser um simples sorteio e se transformou em um jogo de azar

O jogo, a princípio lícito, foi liberado pela Câmara, mas ficou logo sujeito à fiscalização da polícia. Rapidamente estendeu-se para fora dos muros do zoológico carioca, em que “bicheiros” concentravam apostas em ruas, praças, cafés, casas de fumo, lotéricas, vendas etc. A loteria foi batizada de jogo de bicho e logo virou. A repressão não demorou - autoridades criminalizaram a atividade ainda no final dos anos 1890, pelo bem da "segurança pública". Para combater as apostas, que se tornaram uma mania em toda a cidade, a Prefeitura impediu o sorteio em 1895. Mas deu zebra: em vez de enfraquecer a jogatina, a proibição fortaleceu os bicheiros. Se antes eles compravam os ingressos no zôo e os revendiam pela cidade, a partir daquele momento eles se juntaram para realizar o sorteio por conta própria. Nem a ameaça de cadeia para os bicheiros com a criminalização do jogo, em 1946, conseguiu segurar a jogatina. Àquela altura, o bicho já era uma mania instalada no imaginário popular, apoiado em uma rede de relações pessoais e no infalível “jeitinho brasileiro” para driblar a repressão.

Por causa da repressão, o resultado do bicho era divulgado de maneira disfarçada, para não chamar a atenção da polícia. Um dos costumes era anunciar os animais sorteados em classificados ou em rádios clandestinas. Em alguns bairros, para evitar que os apontadores sejam pegos com a prova do crime, os bicheiros pregam os resultados do sorteio em um lugar público – uma árvore, por exemplo. Cada apostador arranca uma folha com o bicho do dia e leva o seu “fruto” tranquilamente para casa

Quem estuda o jogo garante: a possibilidade de associar os bichos com o dia-a-dia e até com os sonhos foi fundamental para fixar o jogo no imaginário popular. Para os apostadores, tudo é motivo para um palpite. Foi traído por um amigo falso? Jogue no urso. Sonhou com fuga ou perseguição? Aposte no cachorro. Foi roubado? Crave no gato, pois o felino representa o ladrão. Na sabedoria das ruas, as combinações são infinitas…

O bicho pegou de vez na década de 80: com os lucros estratosféricos das apostas, os homens fortes do jogo se uniram com o crime organizado. Eles lançaram tentáculos em pelo menos seis áreas: tráfico de drogas e de armas, especulação imobiliária, prostituição, jogos eletrônicos e transporte clandestino, com peruas e lotações. Mesmo proibido, o bicho continua até hoje com três sorteios diários, representando uma pequena fatia da grana suja que alimenta os criminosos. Com a proliferação das loterias oficiais, dos jogos eletrônicos e dos bingos, o bicho entrou em decadência e perdeu muito público.

Atualmente o jogo do bicho se utiliza dos sorteios da loteria federal. Esta realiza sorteios diários, através da Caixa Econômica Federal, que é quem fica responsável por organizar todo o evento. O resultado é aberto ao público, e o jogo do bicho utiliza dele para se manter, mas sem o consentimento da organização, claro.

Cada bicho corresponde a uma numeração, e os participantes podem fazer diversas combinações, sempre de olho no sorteio, escolhendo por um bicho, duplas, triplas, entre demais formas de jogar. Por exemplo, se a pessoa apostar no Coelho, o número é o 10. Portanto, no sorteio da Caixa o apostador precisa torcer para ter o final 10. E assim vai variando de acordo com o valor apostado.

Porém, como já mencionamos, a prática é ilegal no Brasil. Isso ocorre pelo fato de que não existem regulamentações no país sobre a mesma, portanto, não gera o pagamento de imposto e taxas, que deveriam ser revertidas ao governo. Dessa forma, tenha ciência de que apostar no jogo do bicho é uma prática que não está dentro da lei.


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